Já dizem que é uma questão de ponto de vista...
Verdades absolutas são todas contestáveis.

sábado, 31 de julho de 2010

Imperceptível - 3

Dimitri sentia o olhar de Nina em sua direção, mas estava cansado demais para olhar. Não era grosso. Na verdade tinha um pavor imenso de magoá-la. Mas estava se tornando inevitável, ultimamente.

Seus olhos pousaram nos peixes dentro do aquário da sala. Ficou feliz por não ser Anatomia, afinal.
Após as instruções do professor, Dimitri retirou com pressa um peixe esverdeado do aquário, pronto para dessecá-lo. Ele adorava essas coisas. No entanto, esperou alguns segundos para intrincar o bisturi nas escamas molengas, observando atentamente o peixe se debater sem ar. Cada movimento. Então seus olhos escuros voltaram-se para o corte que estava prestes a fazer, e fê-lo. Traçou uma linha reta e pequena na região estomacal. Observava-se o ápice de agonia do ser marinho, que agora cedia à morte. Então Dimitri voltou a trabalhar com certa agilidade, remexendo dentro do peixe com eficácia, sendo observado de esguelha por todos, um tanto chocados.

Perda

Cada palavra dita foi uma despedida. Ela está sempre implícita, não é mesmo? O desespero cresceu na minha garganta, queria poder te abraçar e dizer que tudo estava bem. Mas no fim do dia, não seria você que eu procuraria - ou quereria - e você sabia.
Eu te pedi mil vezes para não dizer aquelas palavras. Mas qual é o melhor jeito de recusar sutilmente o amor alheio?
Foi estupidez dizer aquilo, nós sabemos. Você me tinha, talvez não como gostaria. Mas o que melhorou agora?
Eu não tenho nada para dar. Não porque eu sou totalmente seca, mas porque alguém já ocupa cada espaço meu.
Eu apreciava você e via muito mais do que via em outros.
Você era parte da minha ligação com um certo mundo. Talvez você pense que não, mas agora me falta mais do que falta a você.
Perdi o mundo.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Nina - 2

Eles caminhvam num ritmo lento, como se pudessem adiar as aulas. Apenas Nina gostava da aula que teria em seguida, História da Arte. No entanto, não se moveu mais rápido do que os outros dois rapazes, pois sabia que Dimitri não faria questão de acompanhá-la. Resignou-se, pois adorava tudo que envolve-se desenhos. Era tudo que ela tinha de melhor, seus desenhos eram bons como ela nunca seria - ela sabia disso, mesmo que negasse - e ao mesmo tempo em que tentava fazê-los ainda melhores, ela os invejava. Eram de uma perfeição que ela mesma jamais teria.
Dimitri tinha Anatomia básica, o que lhe parecia um tanto tedioso, e Sven tinha Química. Cada um tomou seu rumo ao adentrar a escola, e Nina pareceu um tanto hesitante ao separar-se dos dois. Sven virava-se a cada exatos quatro segundos enquanto andava, para observar o cabelo de fogo de Nina voar com o vento que agora soprava frio. A menina no entanto estava alheia a tudo, tentando apenas entender o porquê de Dimitri ser sempre tão distante, enquanto Sven era extremamente receptivo, talvez até demais. Lhe frustrava o fato de ele não elogiá-la como os outros faziam, os comentários sobre seus desenhos eram sempre curtos, dispensáveis. Por algum motivo, Nina gostava dele, e apesar de ninguém de fato também apreciá-lo, sentia-se atraída de um modo incompreensível. No entanto, não era recíproco.

domingo, 25 de julho de 2010

âmago.

Um dia eu li num livro que o nível extremo da evolução psíquica do homem seria a leitura de pensamentos. Aquilo me chocou de todas as formas, pois eu sabia que eu mentia. Sabia que mentia para agradar alheios, para não magoar, para me proteger. E aquilo simplesmente cairia. Eu seria fraca demais para sobreviver em um mundo assim.
No entanto, as pessoas também veriam as minhas mais profundas intenções. E talvez, se vissem que as mentiras não eram nocivas, me deixassem viver ali. Mas todas elas são, não é mesmo? As meias verdades, mentiras brancas. São só formas belas de mentir. No entanto, eu minto porque tenho razões para. Talvez nem isso me redima, mas admitir já deve significar algo.

Eu finjo demais. Finjo que acredito em você, e isso é outra mentira.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Apatia - 1

Nina olhava através das íris verdes intensas a chuva que caía do lado de fora com desinteresse total. Na verdade, era apenas uma garoa fina que caía naquela época do ano. Ou talvez fosse em todas elas, mas a garota não sabia ao certo.
Sven observava o suco de maracujá à sua frente, ainda intacto, numa relativa quietude. Ele protestava com um voto de silêncio contra a alienação de Nina em seus assuntos, esperando que ela perguntasse o que ele tinha.
- Porque você lê esses livros? São todos grotescos.
- Pela mesma razão que você lê todos os tipos de livros de desenho que existem. Eu simplesmente gosto. - Nina ignorou a onda de frieza que Dimitri emava. Ele detestava quando lhe interrompiam. Detestava que lhe diziam que seus livros sobre fraturas eram medonhos. No entanto, os outros dois amigos sabiam que era esse seu tratamento habitual.
O trio era extremamente recluso e deslocado por natureza, mas a mistura de suas personalidades tornava a convivência entre eles bastante agradável às vezes. Os meninos não tinham escolha - simplesmente não suportavam a ideia de socializar com os outros jovens da mesma idade. Não por crença na superioridade dos dois, mas por desprezo. Eles eram auto-suficientes, e se não fossem, eram ainda melhores amigos, mesmo que de um jeito totalmente estranho.
Nina poderia fazer parte da rede social escolar. Era bonita no conjunto, as sardas e os olhos verdes emoldurados por madeixas cacheadas cor de cobre. A realidade é que muitas das garotas adorariam possuir suas feições bem torneadas. No entanto, seu encanto perdeu-se aos poucos, como se seus olhos ficassem bassos, seus cabelos num fogo mais brando, morto. Talvez toda a sua vida tenha se esvaído aos seus desenhos, mais vivos do que ela própria.



(...)

Contos

Não pude deixar de seguir a multidão e postar um conto aqui. Afinal, eu nunca disse que esse era um blog original .

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Exílio

Celular, telefone, msn, scraps, etc... Inventaram tantas formas de manter-se em silêncio.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Teorias marqueteiras

http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/nasa-desmente-fim-do-mundo-em-2012-21102009-17.shl

Não são minhas palavras.
Surpreende-me que os mesmos que apontaram os Maias como povo animalesco inferior há séculos atrás, recorram às suas teorias apocalípticas atualmente. É de extrema hipocrisia subjugar um povo inteiro e séculos depois afirmar que na verdade eles eram muito inteligentes, detinham conhecimento astronômico impressionante, blablablá... Isso não impediu que os espanhóis aniquilassem sua cultura, como se eles fossem de fato apenas gado, não é mesmo?

Não estou criticando nen
hum país, ou qualquer conduta que este possivelmente tomou. Só o que é condenável é você oprimir, e depois se apropriar de alguma parte da cultura do oprimido como uma possível realidade. Obviamente, a parte escolhida é uma passagem do apocalipse. Que original. Tendo em vista que o mundo já acabou pelo menos umas duas vezes, isso não é lá muito esperto. Mas sempre existirão aqueles que vão a comprar a teoria e o mercado inteiro, fazer um esconderijo debaixo da terra e ficar rezando para que o mesmo Deus que deixou que o mundo acabasse agora salve os pobres seres humanos.

Pois é, é tudo marketing mesmo. Existe uma indústria que lucra na sua crença nessas lendas. Não é um pouco de coincidência aquele filme hollywoodiano "2012" ter surgido bem quando esse boato se espalhou? O pior de tudo, é que ainda estragam até a teoria MAIA! Quem assistiu o filme sabe do que estou falando.

E isso nunca vai acabar. Sempre vai existir um fanático qualquer que vai escrever um trechinho todo em códigos estranhos, que supostamente indicam um acontecimento bombástico, que vai coincidir com algo e todos vão ficar chocados e tomarão aquilo como verdade. Eu poderia fazer isso. Poderia pegar dados astronômicos e dizer que no próximo alinhamento de sei lá o quê o mundo vai passar por uma mudança drástica, e quem quer que seja que esteja vivendo aqui daqui a 200 anos vai pensar "OH! Os povos da antiguidade preveram isso! Vamos todos morrer!". O ser humano adora um drama.

Lógico que sempre haverá a famosa conspiração de que o governo esconde os fatos para evitar pânico em massa. é verdade, se um asteróide enorme estiver na direção da Terra, você só vai descobrir na hora que acertar a sua cabeça. Mas isso não se aplica a tudo. O problema é que sempre tem um grupo desocupado preocupado com a mais nova conspiração - e esse grupo vai achar a conspiração. Você enxerga o que decide enxergar, sem necessariamente ser real.

Acredito mesmo que os Maias eram muito superiores a nós em vários aspectos, mas basear a veracidade do fim do mundo em uma teoria de um povo extremamente ligado a rituais de sacríficio e outras tantas coisas primitivas não lhes garante muita credibilidade.

terça-feira, 6 de julho de 2010

os medos

O ser humano é sempre tão insatisfeito. Mesmo tendo o que mais almeja, ainda revê as possibilidades negativas. Não como se desejasse que aquilo de fato acontecesse, mas é apenas pela graça de sentir aquela imagem da dor, um tanto masoquista. Ou ainda, tentar prever os próximos possíveis lances da partida. Permanentemente acordado.

E quando alguém te diz o que você desejava muito ouvir e dizer, você simplesmente não sabe como dizer que tudo aquilo é real para a sua pessoa também, sem que aquilo pareça uma obrigação. É quando roubam as palavras lindas que você desejava que fossem suas, mas você foi covarde demais para dizê-las primeiro. E o pior, é a sensação de impotência na comunicação. De nunca ser suscinto o suficiente. De nunca convencer o outro totalmente do quão real é aquilo que você sente.

Sim, o vício auto-defensivo é mesmo terrível. Mesmo quando se sabe que se está nos braços mais seguros, é extremamente difícil ter certeza de que eles não te soltarão.

Eu detesto títulos

E essa tecnologia, mais uma vez, me humilha. É lamentável que eu ainda escolha me escravizar assim.